O que é um projeto editorial?

Por Davi Denardi
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O projeto editorial é um documento que define e organiza estrategicamente um veículo de comunicação, podendo ser um blog, um jornal, uma revista, um portal de notícias, entre outros. Ele é necessário para esclarecer e documentar as decisões estratégicas da publicação e manter ela consistente ao longo do tempo.

Imagine o seguinte, você cria uma publicação e ela dá super certo, pelo bom conteúdo ela começa a ganhar leitores, seguidores e consequentemente vai dando um bom retorno financeiro. Na sequência você tem que contratar mais redatores, jornalistas ou repórteres, cada um com um estilo de escrita e um posicionamento pessoal diferentes. Deixar que cada um leve as matérias para as suas preferências pessoais pode resultar em uma publicação sem foco, com vieses indesejáveis e até muito diferente do que você pensou lá no início (e que estava fazendo com que a publicação crescesse em primeiro lugar). Então para manter a publicação sempre nos trilhos você cria um projeto editorial, um documento que mostra os principais detalhes da publicação.

O projeto editorial dá mais clareza e foco para a publicação, porque todos os envolvidos vão conhecer os seus detalhes, incluindo parceiros externos; ele ajuda a organizar a equipe porque coloca a visão e os limites da publicação; e ajuda a refinar e manter o público, porque evita desvios na condução dos conteúdos.

Elementos do projeto editorial

Um projeto editorial pode conter vários elementos conforme a especificidade e as necessidades de cada publicação, mas aqui vou listar os principais deles.

Nome da publicação

Ele define como ela vai ser reconhecida pelo público, é uma etapa importante do processo porque ele geralmente deve ser curto e também ao ser lido e pronunciado deve sugerir o tipo de conteúdo e o posicionamento da publicação. Quatro Rodas por exemplo sugere algo ligado à mobilidade, carros e veículos, mesmo que não se conheça a publicação esses temas podem surgir à mente e contribuir para que potenciais leitores interessados nesse tema reconheçam a publicação.

Objetivo ou Missão Editorial

Assim como o nome da publicação, a Missão Editorial define em uma linha ou poucas palavras o propósito e a razão de existir da publicação. Seguindo o exemplo da Quatro Rodas, a sua Missão Editorial é “para quem é apaixonado por carros”, que mesmo sendo apenas uma frase já indica bem o direcionamento da publicação, já que claramente não é para quem não gosta ou se interessa só superficialmente pelo tema (tem que ser apaixonado!).

Além disso, a Missão Editorial já dá uma dica sobre o tipo de conteúdo, ainda no caso da Quatro Rodas só pela Missão dá pra saber que os conteúdos vão entrar em detalhes mais específicos que só os apaixonados pelo tema vão querer saber. Tem outros exemplos de Missão Editorial nesse post.

Público-alvo

Toda publicação tem como objetivo atender às necessidades de um público, um grupo de pessoas que tem interesse em um determinado tema. Quanto mais bem definido esse público, melhor será o foco da publicação e consequentemente mais fácil vai ser de fazer o gerenciamento dela e mais assertivas serão as decisões.

É importante lembrar que uma publicação pode ser lida por diversos públicos, uma revista fortemente ligada ao universo feminino pode ser lida por homens (e vice versa) mas provavelmente vai ser em menor escala. Existe sempre um público que é mais fortemente interessado nos conteúdos que vamos publicar, esse é o público-alvo, e é para ele que temos que concentrar os esforços.

Em geral a definição do público pode ser demográfica, quando são definidos gênero, idade, localização (se minha publicação é em português do Brasil, o meu público é brasileiro certo?), renda e escolaridade; ou conceitual, quando são levados em conta elementos de comportamento mais difíceis de serem medidos, como “pessoas altamente espiritualizadas”, “com criatividade na veia”, “sabem o que querem”.

Por exemplo, o público-alvo de uma publicação de games pode ser “jovens brasileiros de 14 a 25 anos com renda familiar a partir de R$ 8.000,00 e com competitividade na veia”. Nesse caso estou assumindo que os conteúdos vão ser mais descontraídos (jovens), de jogos mais novos (renda um pouco maior e podem pagar por lançamentos) e competitivos.

Outro público pode ser “adultos brasileiros de 35 a 55 anos com renda familiar de até R$ 3.000,00 apaixonados por games”. Nesse caso o foco é outro, talvez jogos mais antigos (público de mais idade) e mais baratos (renda menor).

Obviamente essas definições são superficiais, seria preciso estudar o comportamento desses grupos para definir mais claramente as necessidades deles.

Política editorial

A política editorial define os limites e a abordagem da produção de conteúdo. Por exemplo ela pode ser delimitada como “novidades do setor de games” e daí se tem uma busca constante pelo novo, talvez textos mais curtos e sucintos; ou pode ser “análises aprofundadas sobre games”, o que implica mais profundidade e consequentemente mais tempo e pesquisa nesses conteúdos.

A política editorial também pode definir se aceita artigos de terceiros e como eles podem ser enviados, ou se os conteúdos serão produzidos apenas por convite.

Um exemplo de política editorial pode ser “A Revista Nerd publica as principais novidades do mundo dos games com conteúdos claros e diretos produzidos por convidados especialistas no assunto”.

Tom de Voz

Assim como na vida real, o Tom de Voz define “como” você vai conversar com o seu público, é uma conversa descontraída? Um papo sério? Um conteúdo técnico e preciso? Um papo com aquele amigo super divertido?

O Tom de Voz é parecido com a personalidade de uma pessoa, e quando aplicada às publicações vai de certa forma definir também a personalidade dessa publicação. E assim como alguns tipos de personalidade “batem” ou “não batem” com a gente, o Tom de Voz pode aproximar ou afastar o público.

Um jeito fácil de determinar o Tom de Voz é criar uma persona, um personagem fictício usado para pensar vários aspectos da publicação. Por exemplo, a “Revista Nerd” pode ser “André é um garoto de 20 anos que estuda Design e (em todas) as horas vagas mergulha no PC e destrincha todas as melhores jogadas para depois mostrar para a galera como se faz. Ele não faz isso por arrogância, mas porque gosta de ver toda a galera mandando bem nos games”. Uma persona completa conta bem mais da história do André, sua família, onde mora, se tem namorada ou não, o que mais faz nos fins de semana, enfim tem uma vida própria.

Mas voltando ao Tom de Voz, provavelmente o André diria “Galera, se liga nessa smoke que eu descobri no CS”, e não “Uma das melhores smokes para serem utilizadas no CS é…”, e também não seria excessivamente competitivo como “Quer aprender vai treinar seus trouxas”.

Assim, conhecer bem o André e comunicar a sua história (fictícia) para todos os produtores de conteúdo da publicação ajuda a manter o Tom de Voz dentro do esperado.

Além disso, o Tom de Voz muda com o tempo, e deve ser revisto de tempos em tempos dependendo do feedback dos leitores.

Editorias ou seções

As editorias ou seções são uma forma de organizar os conteúdos em grandes grupos de interesse, são exemplos de editoria “Política”, “Esportes”, “Saúde”, “Negócios”, entre outros.

Exemplos de editorias da CNN Brasil

As editorias ajudam a direcionar os leitores aos seus conteúdos de maior interesse e dependendo do tamanho da publicação ajudam a gerenciar vários públicos, como é o caso dos grandes portais de notícias.

Além disso, as editorias ajudam a organizar internamente a equipe, já que se pode ter produtores de conteúdo ligados especificamente a cada uma delas. Os redatores de “Política”, por exemplo, são geralmente diferentes da editoria de “Saúde”.

Periodicidade

É a definição da frequência de publicação podendo ser, em tempo real, diária, semanal, mensal, bimestral, semestral, anual, entre outros.

Em geral a periodicidade depende da estrutura interna e do conteúdo da publicação. Equipes menores em geral têm uma periodicidade maior, visto o tempo necessário para produzir os conteúdos. Temas complexos em geral dependem de mais tempo de revisão para evitar problemas, por exemplo. E também o meio de publicação pode depender de mais ou menos tempo de produção. Vídeos por exemplo levam mais tempo para produzir que textos simples.

Canais de comunicação

Finalmente, mas não por último, é preciso definir quais canais de comunicação serão utilizados pela publicação, que pode ser meios impressos (jornais, revistas, etc), mídias sociais (Instagram, Facebook, Tik Tok, Twitter, Youtube, entre outros) e/ou mídias digitais (blogs, sites, portais, entre outros).

Para cada canal deve ser definida uma periodicidade de publicação e indicadas as equipes que vão cuidar de cada um dos conteúdos.

Conclusão

Qualquer empreendimento requer planejamento, e isso acontece também com as publicações, e uma das primeiras etapas é o Projeto Editorial, ele deve ser feito com calma e preferencialmente envolvendo todos as partes interessadas (produtores de conteúdo, gestores, entre outros). Ela não garante o sucesso mas coloca bases sólidas que podem e devem ser revistas periodicamente.

O projeto editorial também serve como base para o projeto gráfico das publicações já que define os elementos estatégicos dela.

E aí? Já fez um projeto editorial para sua publicação? Colocou todos os elementos? Acha que faltou algum aqui no texto? Conta aí nos comentários a tua experiência ou a tua opinião! 😉

           
sobre o autor Davi Denardi Davi Denardi é pesquisador de design editorial e game design, e professor dos cursos de Design Gráfico, Design Digital e Design de Jogos da Universidade Federal de Pelotas.

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