O que é semiótica? E pra quê ela serve no dia a dia

Por Davi Denardi
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A semiótica é uma teoria das significações e uma ciência dedicada ao estudo dos significados. Ela tem origem na palavra semeion que significa signo, marca, inscrição, segundo Santaella. Assim, a base da semiótica é o conceito de signo, mas não são os signos da astrologia! Um signo é qualquer coisa usada para representar outra coisa. Por exemplo, em sinalizações de trânsito a cor vermelha é usada geralmente com o significado de “pare”. Ao mesmo tempo, a imagem de uma mão pode ter o mesmo significado, e mesmo a palavra “pare” tem esse significado.

Sinal de “pare” na foto de Josh Hild.

Apesar de terem o mesmo significado cada um desses elementos (a cor vermelha, a imagem de uma mão e a palavra “pare”) são signos diferentes. Um é um signo cromático, mais para uma sensação; a imagem é uma referência ao gesto humano usado para ordenar uma parada; e finalmente, a palavra “pare” é um signo linguístico e requer de quem vai entrar em contato com ele o conhecimento de uma língua.

As diferentes categorias de signos nós vamos explicar em outra postagem.

Então, na criação de significados nós humanos usamos uma série de signos diariamente e que podem ser de diversas categorias, cores, formas, sons, cheiros, texturas, entre outros, podem potencialmente ser signos e criar significados.

Por isso, a semiótica é uma disciplina interdisciplinar. Sociólogos podem usar a semiótica para entender como determinadas sociedades criam e usam signos em seu dia a dia. Para as artes e o design ela ajuda a compreender como as pessoas podem se relacionar com imagens, esculturas, desenhos e outros tipos de produção imagética. Para profissionais de comunicação ela ajuda a pensar a forma como a informação circula na sociedade, e assim criar produtos de comunicação mais assertivos. Para a música ela ajuda a pensar os signos sonoros como formas de comunicação e expressão.

Também existem estudos semióticos na neurociência, que busca compreender como o cérebro interpreta os signos; a biologia, que estuda a comunicação nos seres vivos; na computação, buscando criar sistemas que consigam imitar a comunicação humana e se comunicar com os seres humanos em uma linguagem fácil de entender, além, é claro, da interligência artificial.

Significante e significado

Assim, temos no mínimo dois extremos na semiótica, o significante (o signo que está representando alguma coisa) e o significado (o que está sendo representado).

The Treachery of Images – René Magritte – 1929

Essa pintura de rené Magritte é um exemplo clássico da semiótica. A legenda diz “Isso não é um cachimbo”. De fato o que estamos vendo não é um cachimbo mas a representação visual de um cachimbo. Nesse caso a pintura é o significante e o cachimbo real o significado.

Emojis na foto de Roman Odintsov

Indo mais longe, a frase “Isso não é um cachimbo” também pode estar se referindo à própria pintura, ou seja, “isso não é um cachimbo, mas uma pintura”.

Além de objetos físicos os significados podem ser também abstratos como emoções, sensações e ideias. Os emojis são um bom exemplo de signos que representam emoções. Tristeza, alegria, raiva, desconfiança, entre outros, podem ser representados por emojis em conversas nas mídias sociais.

Essa divisão em dois extremos (significante e significado) é mais comum na obra de Ferdinand de Saussure (1857-1913), outro teórico da semiótica, o inglês Charles Sanders Peirce (1839 -1914) pensa a relação dos signos em três pilares, o signo (significante), o objeto (significado) e o interpretante.

O interpretante é aquele que vai receber e processar o signo, criando um significado. Geralmente o interpretante é um ser humano mas ele pode ser também um interpretante tecnológico, como uma inteligência artificial.

O interpretante entra em contato com o signo e então é criada uma referência ao objeto a que ele se refere. Ainda usando o exemplo da obra de Magritte, ao ver a pintura a imagem do cachimbo (signo) nos faz lembrar de um cachimbo real (objeto). Já a relação entre o signo e o objeto é uma relação indireta (representada aqui por uma linha apagada) e depende das características do signo, do interpretante e do objeto.

Por exemplo, a palavra “saudade” é um signo verbal (que é uma característica do signo) que só é interpretada por quem conhece a língua portuguesa (característica do interpretante) e se refere a um sentimento (característica do objeto).

O interessante dessa relação é que “saudade” é uma palavra que só existe na língua portuguesa, apesar do sentimento de saudade ser universal para os seres humanos, esse signo (palavra “saudade”) é exclusivo nosso.

Resumindo

Em resumo, a semiótica é então uma disciplina interdisciplinar que se concentra na análise dos signos, símbolos e outros sistemas de significação. Ela busca compreender como a informação é transmitida, interpretada e compreendida pelos indivíduos em uma sociedade.

A semiótica tem aplicações em campos como a comunicação, publicidade, arte, literatura, entre outros, e permite analisar como as mensagens são construídas, transmitidas e recebidas em diferentes contextos culturais e sociais. Além disso, a semiótica pode ser usada para estudar questões relacionadas ao poder, identidade e subjetividade. Em resumo, a semiótica é fundamental para compreender a forma como a linguagem e os símbolos influenciam nossa percepção e compreensão do mundo ao nosso redor.

Referências

Um ótimo livro para começar a estudar a semiótica é o “O que é semiótica” de Lúcia Santaella, uma das mais importantes pesquisadoras da área. O livro traz uma visão geral dos principais conceitos de semiótica, seus principais elementos, os usos, e os limites dessa jovem ciência.

           
sobre o autor Davi Denardi Davi Denardi é pesquisador de design editorial e game design, e professor dos cursos de Design Gráfico, Design Digital e Design de Jogos da Universidade Federal de Pelotas.

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