Os 5 passos de um projeto gráfico editorial
Um dos problemas mais comuns na hora de projetar qualquer produto é escolher a metodologia mais adequada, ou seja, saber por onde começar, que ferramentas usar e qual o fluxo de trabalho mais eficiente.
Para solucionar essa dificuldade em relação à vários tipos de periódico impresso vou apresentar aqui a metodologia que nós usamos para projetar a Revista Letraset.
A metodologia é dividida em duas etapas, a etapa de planejamento (projeto gráfico) e a etapa de edição. A etapa de planejamento acontece antes do lançamento da publicação e tem um caráter mais estratégico, em geral as definições dessa etapa não serão modificadas drasticamente ao longo da vida útil da publicação. Já a etapa de edição é cíclica pois acontece ao longo do desenvolvimento de cada uma dos números da publicação.
Etapa 1 — Público-alvo
Como em qualquer projeto de design, conhecer o perfil das pessoas que vão interagir com o produto é sempre o primeiro passo. No caso do projeto gráfico editorial temos dois perfis distintos, o perfil demográfico e o público-conceito.
O perfil demográfico envolve questões básicas como idade, sexo, localização geográfica, perfil socioeconômico (classes A, B, C, D, por exemplo) e escolaridade.
Já o público-conceito diz respeito ao comportamento, preferências e estilo dos leitores, é um conceito ao mesmo tempo mais amplo e profundo de definir um público-alvo, e por isso mesmo mais útil na hora de definir elementos de projeto. Exemplos (meio toscos) de público-conceito são as tribos urbanas como os Geeks, Nerds, Punks, Surfistas, e por aí vai.
Juntando o perfil demográfico e o público-conceito geralmente chegamos a uma persona para o projeto.
Etapa 2 — Conceito editorial
Ele se divide em três grandes preocupações, a missão editorial, a fórmula editorial e o título/logotipo da publicação.
Missão editorial
A missão editorial é o fio condutor de todas as decisões da publicação e tem como objetivo manter as decisões editoriais “nos eixos”, evitando mudanças de rumo, que geralmente resultam no desgaste da equipe, descontentamento dos leitores e consequente prejuízo financeiro.
Também é importante deixar claro que a missão editorial diz respeito a todos os profissionais envolvidos, designers, jornalistas, redatores, ilustradores, entre outros.
Ela é expressa na forma de algumas palavras, uma frase ou alguns poucos parágrafos e deve resumir o posicionamento da publicação em relação às necessidades e anseios do público-alvo. Para ficar mais claro vou mostrar dois exemplos de missão editorial.
Revista Veja
Como podemos ver a missão editorial da Revista VEJA está intimamente relacionada ao esclarecimento do leitor em um sentido mais pragmático e formal já que usa palavras como “informar” e “esclarecer” em sua missão editorial e ainda se propõe a “elevar o nível de compreensão” dos leitores.
De fato quem já leu a revista nota o tom sóbrio do texto e a diagramação mais formal das páginas, com fontes sem serifa nos títulos, fontes serifadas no corpo de texto e alinhamento justificado.
Em relação à construção do texto, a revista mantém a sobriedade e (suposta) imparcialidade já que é quase todo construído em terceira pessoa.
Revista Capricho
Já a missão editorial da revista Capricho aposta em um relacionamento mais próximo e afetuoso com os leitores, como pode ser visto na sua missão editorial, que propõe “tornar a adolescência a época mais incrível da vida de uma garota”, e ainda diz que isso será feito na forma de uma relação de “intensa cumplicidade”.
Em termos gráficos essa cumplicidade se dá por meio de um projeto gráfico e uma diagramação informal, colorida, com alinhamentos irregulares e fontes manuscritas.
Também o texto parte para uma abordagem mais próxima e informal como por exemplo entretítulos que usam termos mais “descolados” como “Bye, Bye resíduos” e “Hidratação neles!”.
Essa unidade dos resultados tanto em termos gráficos como em termos de planejamento de conteúdo se dá porque a missão editorial está descrita de uma forma clara e é seguida em todas as decisões da publicação, sejam elas gráficas ou na geração dos conteúdos.
A fórmula editorial
A fórmula editorial é uma forma de tornar concreta a missão editorial por meio da organização geral da publicação, geralmente na forma de editorias ou cadernos. Em outras palavras a missão se torna uma forma de “guia” de conteúdos que deverão compor todas as edições futuras.
Por exemplo, uma publicação que trate de saúde e bem estar pode ter editorias ou cadernos sobre atividades físicas, alimentação e espiritualidade, e esses grandes temas servirão de base para o planejamento das equipes (quem vai ficar responsável pela editoria “alimentação”, por exemplo) e dos conteúdos de cada uma das edições.
Nome/Logotipo
Finalmente, mas não necessariamente por último, a missão editorial deve se tornar explícita no nome e na identidade visual da publicação.
Geralmente os nomes são curtos e suas identidades têm forte tratamento de tipografia e em alguns casos apresentam suaves modificações nas fontes.
Como em qualquer processo de naming:
- Cuidado para que ele seja compreendido e memorizado facilmente;
- Que não tenha interpretações duvidosas;
- Que esteja disponível legalmente, ou seja, que outro indivíduo ou empresa não esteja usando;
- É importante que esteja disponível na internet, já que boa parte da divulgação hoje em dia é feita por canais digitais.
Etapa 3 — Projeto gráfico
Finalmente, a etapa de planejamento é encerrada com o projeto gráfico ou manual de projeto gráfico. É nessa etapa são definidos o formato, o papel, as opções de acabamento, o grid, a tipografia, as cores e as definições de todos os elementos da página impressa.
Sou suspeito para falar, mas acho essa etapa uma das mais bacanas já que é aqui que o projeto ganha corpo visualmente. Um exemplo bacana de manual de projeto gráfico é o do Culturama.
Etapas 4 e 5 – Edição e finalização
As etapas 4 e 5 são cíclicas e vão acontecer conforme a periodicidade da publicação, diariamente, mensalmente, semestralmente, e por aí vai.
Edição
Na etapa de edição são apurados os conteúdos, editadas as matérias, faz-se a diagramação e a revisão. É no processo de edição que vai existir uma interação mais intensa entre os profissionais devotados ao conteúdo (sobretudo jornalistas) com os designers, pois é o momento onde se tomam as decisões sobre os conteúdos que vão compor cada edição, como por exemplo qual matéria ou conteúdo vai ter mais destaque, ou como será a diagramação de cada página. Tenho um conteúdo mais detalhado sobre edição para quem tiver interesse, pra não deixar esse texto muito longo.
Finalização
Já a finalização diz respeito ao fechamento de arquivo, impressão e distribuição da publicação. Nesse ponto é importante acompanhar esses processos para garantir que o que está no projeto gráfico realmente apareça na impressão e no produto final, o que pode servir de subsídio para alguma revisão inicial do projeto, seja por solicitação da equipe de redação, que pode ter dúvidas na hora de “usar” os elementos do projeto gráfico, quanto de algum erro menor no processo de impressão.
Por isso é bom lembrar que o projeto só fica pronto de verdade quando é publicado (na realidade ele fica pronto mesmo lá pela terceira edição) já que pequenos ajustes são normais após o lançamento oficial. Então é uma boa medida colocar no contrato e no orçamento do projeto o acompanhamento de algumas edições após a entrega do projeto gráfico.
Referências
A principal referência da parte estratégica desse texto é o ótimo “A arte de editar revistas” da Fátima Ali.
Ela fala justamente das questões estratégicas relacionadas a editar uma revista, como a missão editorial, as editorias, a organização interna e a importância de conhecer bem o público.
Ela também explica questões de projeto gráfico e diagramação. Vale muito a leitura!
Mas quem organizou as informações e criou a metodologia propriamente dita fomos nós mesmos, então se quiser conhecer ela com mais detalhes é só acessar o artigo que escrevemos. Ou se for citar em um trabalho acadêmico, como TCC, dissertação ou tese, pode usar a referência conforme está aí embaixo:
DENARDI, Davi Frederico do Amaral; GERALDES JUNIOR, Gutemberg Alves. Revista Letraset: Relato do projeto interdisciplinar de edição de periódico impresso. Educação Gráfica. Nº1. Volume 20. 2016.
Conclusão
O projeto gráfico editorial depende de muito planejamento, com especial preocupação em relação ao público e a organização interna da publicação, seja em termos de conteúdo ou de equipe. Por isso não é um processo simples ou rápido de se fazer com sucesso. A boa notícia é que usando uma metodologia tudo fica um pouco mais claro! 😉
E aí? Usou a metodologia Letraset? Deu certo? Você tem um processo próprio? Conta pra gente ali nos comentário! Até mais!
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