Os 5 tipos de letras capitulares
A letra capitular é uma letra diagramada em uma dimensão maior que o corpo de texto e usada para indicar o começo de uma obra, um capítulo ou um parágrafo. Ela tem uma função prática na medida em que ajuda o leitor a identificar esse início de obra, capítulo ou parágrafo; e uma dimensão estética, já que pode dar à página uma aparência agradável.
O uso de letras capitulares (ou apenas capitulares em português e espanhol; drop caps, em inglês; lettrine, em francês, capolettera, em italiano; Initialen ou Anfangbuchstabe, em alemão) é um dos recursos tipográficos mais antigos que se conhece e ainda em uso atualmente. Consiste em letras (ornamentadas ou não) de tamanho maior que o usado no texto que lhe segue, colocadas geralmente no início do primeiro parágrafo, e eventualmente nos demais, em livros e periódicos.
Sua origem está intimamente ligada ao uso das iniciais maiúsculas que passaram a diferenciar o início dos textos e a letra inicial de nomes próprios. Os manuscritos carolíngios marcavam o início de uma frase com uma letra em tamanho maior, antecipando o uso contemporâneo de maiúsculas e minúsculas em um mesmo alfabeto, efetivamente consolidado na Europa a partir do século XVI.
A diferenciação utilizando iniciais maiúsculas pode ser encontrada em manuscritos antigos, nos quais a primeira letra do parágrafo era desenhada em outra cor, geralmente o vermelho (minium e miniare, em latim, que significa zarcão ou vermelho, ou aplicar zarcão ou tinta vermelha), de modo a assinalar ao leitor o início de um parágrafo.
Com o passar do tempo, as letras capitulares foram adquirindo importância, evoluindo para formas mais complexas, ampliando seu tamanho e acrescentando ornamentos figurativos ou abstratos, sempre guiados pelas mãos hábeis dos copistas que criavam as capitulares adaptadas às características do texto ou da página, algumas vezes chegando a ocupar toda a altura da página.
Mas a legibilidade formal do texto contemporâneo, associado à nova forma de ser impresso – necessitando a existência física de um tipo móvel para cada letra –, aparentemente teria levado as capitulares à perda de sua função de indicadoras do início das frases ou parágrafos, não sendo mais necessárias ou tendo reduzida sua importância no projeto gráfico, principalmente se comparada com exemplares anteriores, que utilizavam o ornamento como elemento gráfico importante.
Mesmo assim, o uso deste recurso gráfico manteve-se ao longo dos séculos, persistindo até nossos dias adaptado às características do projeto gráfico contemporâneo. Com o advento da diagramação digital no final do século XX, as capitulares deixaram de ser condicionadas à existência física do tipo, sendo usadas com uma maior liberdade.
Os tipos de capitulares
Depois da analisar cerca de 500 exemplares de capitulares coletadas em diversos tipos de produtos editoriais, como jornais e revistas, coletados ao longo de 10 anos dentro da disciplina de Projeto Visual III da UFRGS, chegamos a sete categorias de capitulares.
1. Capitulares criadas por tamanho
Esse tipo de capitular geralmente é criado aumentando o tamanho da capitular. O tamanho pode ir de duas linhas até ocupar metade da página. Dentro deste estudo a ocorrência mais comum foi uma altura entre 5 e 10 linhas.
2. Capitular por relação com a mancha gráfica
Embora predominem as capitulares contidas nos limites da mancha gráfica (ou mancha do texto), pois este é o padrão de programas de editoração, outros posicionamentos são encontrados. É possível proporcionar mais destaque às capitulares colocando-as em posições não usuais, embora correndo o risco de desvincularem-se do texto, como no caso de grandes afastamentos, quanto a letra pode assumir um caráter de elemento gráfico independente, sem relação com o texto.
3. Capitulares criadas por diferenciação tipográfica
Basicamente existem duas subcategorias para esta classificação: capitulares que utilizam a mesma fonte ou família tipográfica do corpo de texto principal e as capitulares que utilizam fontes diversas diferentes daquelas aplicadas no corpo de do texto. No exemplo da imagem, no primeiro caso a capitular se apresenta com a mesma fonte do texto principal, um tipo com serifa. Já no segundo caso, a fonte utilizada na capitular é uma fonte com serifa, enquanto que no corpo de texto principal a fonte é serifada.
4. Aspectos tipográficos complementares
Esta categoria trata dos aspectos que as letras podem adquirir para conferir-lhes personalidade, mas que não são opções tipicamente tipográficas. Uma cor de fundo, por exemplo, pode ser utilizada para contribuir para a sua diferenciação em relação ao texto principal, porém esta não é totalmente tipográfica, mas sim uma interferência visual criada por projetistas ou diagramadores. Nesse sentido, também deformações da tipografia original, onde a capitular é esticada ou torcida, não faz parte do universo típico da tipografia escolhida mas uma interferência usada para criar diferenciação visual.
5. Casos especiais
Na categoria de casos especiais encontram-se situações particulares que não foram identificadas em outros casos, ou seja, são casos muito singulares e por isso de difícil classificação em outras categorias.
Um caso especial é o uso de palavras como capitulares. Relativamente raro, mesmo assim foram localizados alguns casos, mas usando palavras pequenas (preposições, artigos, pronomes).
Também fazem parte desta categoria elementos gráficos ou imagens utilizadas como se fossem capitulares. O uso de QR Code como capitular é um caso especial interessante, pois acrescenta um outro caráter utilitário às marcações de início de parágrafo, podendo conectar o leitor ao site da revista ou dando acesso a dados complementares da reportagem.
Conclusão
As capitulares fazem parte da história e da cultura da tipografia e do design editorial e por isso estão aí pra ficar. Por isso, o intuito desse pequeno estudo é documentar algumas possibilidades de uso desse recurso gráfico e assim dar aos designers mais uma referência no uso desse recurso.
Obviamente essas categorias não são estanques, podemos ter letras capitulares que se enquadram em mais de um estilo e a última categoria “casos especiais” serve justamente para reforçar que a o que vale mesmo é o uso da criatividade.
E para deixar mais claro e mais fácil de estudar essas possibilidades gráficas das letras capitulares criamos um infográfico resumindo essas diferentes possibilidades. Pode usar à vontade e se precisar citar o estudo em um artigo científico ou trabalho da faculdade segue abaixo a referência completa!
Referências
Cattani, A., & do Amaral Denardi, D. F. (2021). Taxonomia de letras capitulares contemporâneas. InfoDesign – Revista Brasileira De Design Da Informação, 18(1). https://doi.org/10.51358/id.v18i1.806
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