Como o Ritmo Editorial pode deixar sua revista mais interessante

Por Davi Denardi
em

As diferentes páginas de uma publicação não são vistas separadamente, elas se relacionam umas com as outras criando expectativa, tensão e alívio para os leitores. O planejamento desses momentos de leitura se chama Ritmo Editorial.

Imagine uma música feita de apenas um acorde, tocado sempre no mesmo ritmo, ou um filme feito apenas de uma mesma cena, com o mesmo tema, mesmo ângulo de câmera, repetida por duas horas, seria um saco né? Isso acontece porque em uma música ou em um filme esperamos variação, dinamismo, surpresa, em outras palavras, esperamos “ritmo”.

O mesmo acontece no planejamento e na edição de um periódico, cada página tem que ser diferente da anterior e da próxima, precisa trazer uma certa surpresa a cada página virada, levando o leitor a experimentar mais que o simplesmente textos e as imagens. A publicação precisa ser uma música, um filme, uma obra de arte.

Páginas rápidas e lentas

Uma das formas de se estabelecer o ritmo editorial é variar a estrutura global da página, a forma como o seu conteúdo é apresentado. Não basta somente propor diagramações diferentes, é preciso variar o peso visual e a velocidade de leitura entre as diferentes páginas. Isso pode ser feito variando o fluxo de leitura entre páginas rápidas e lentas.

As páginas rápidas são aquelas em que predominam as imagens e ilustrações, ela é chamada página rápida porque o leitor vai mais “passar o olho” do que ler de fato.

Exemplo de “página rápida” da revista Bravo.

Já as páginas lentas são aquelas em que predomina mais o conteúdo textual, nesse caso, para consumir o conteúdo o leitor vai ter que investir mais tempo e literalmente ler.

Exemplo de “página lenta” da revista Bravo.

As páginas rápidas geralmente chamam a atenção do leitor e são mais usadas para as matérias principais e as lentas para outros tipos de conteúdo. Obviamente essa classificação não é absolutamente rígida, pouquíssimas páginas são totalmente lentas ou rápidas, páginas lentas e rápidas são apenas extremos teóricos e podem servir de base para a discussão do projeto editorial.

Anúncios

Outro elemento que tem efeito no ritmo editorial são os anúncios, o posicionamento deles pode ser uma grande oportunidade comercial e estratégica como também pode prejudicar a experiência de leitura quando “caem” no meio de páginas com conteúdos que se relacionam.

Tipos de ritmo editorial

Fatima Ali, no livro “A arte de editar revistas”, existem três grandes categorias de ritmo editorial, o “miolo nobre”, o “sobe e desce” e o “zigue-zague”.

No “miolo nobre” geralmente existe uma matéria que se destaca e é posicionada ao centro da publicação.

miolo nobre está relacionado ao tipo de ritmo onde as matérias principais se concentram no centro da revista, aproveitando a tendência que todos nós temos de abrir uma revista pelo meio. É o caso das revistas de grande circulação, como Exame, Veja ou Isto é, onde a matéria de capa é o conteúdo mais importante e acaba sendo tratado com mais zelo dentro de cada edição.

No sobe e desce é como se cada editoria tivesse a sua própria “matéria de capa”.

sobe e desce acontece quando o ritmo é planejado de forma mais ondulada, ou seja, uma matéria importante, geralmente diagramada com páginas mais rápidas, é seguida por outras de menor importância. Ele é bastante utilizado por revistas que exploram igualmente as editorias, sem dar ênfase gráfica a uma parte específica da publicação, ou seja, cada editoria tem a sua “matéria de capa”.

No “zigue-zague” o foco está no planejamento dos anúncios.

Já o zigue-zague tem mais a ver com o planejamento publicitário, nesse caso ao invés de distribuir os anúncios igualmente ao longo da publicação são criados grandes blocos promocionais, o que preserva de certa forma o conteúdo editorial.

Essa classificação não é estanque e nem definitiva, ou seja, pode-se ter mais de um tipo de ritmo editorial em uma mesma publicação, mas essas categorias são muito úteis para pensar como o ritmo de uma publicação pode ser desenvolvido em um projeto gráfico.

Resumindo

Além de se preocupar com as páginas isoladamente, o designer editorial (ou editor) deve planejar e organizar a forma como as diferentes páginas se relacionam entre si, criando uma publicação mais interessante para os leitores.

Capa do livro “A Arte de Editar Revistas” de Fatima Ali

A principal referência para esse texto é o livro “A Arte de Editar Revistas” de Fatima Ali. Vale muito a pena ler ele todo!

E como sempre, se você tiver qualquer dúvida é só comentar que a gente responde! 😉

           
sobre o autor Davi Denardi Davi Denardi é pesquisador de design editorial e game design, e professor dos cursos de Design Gráfico, Design Digital e Design de Jogos da Universidade Federal de Pelotas.

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