O ecossistema do livro: um guia para o mercado editorial

Por Davi Denardi
em

A questão do livro pode ser abordada de diversas formas, como a questão do conteúdo, a questão gráfica, a questão sociológica, entre outras. Mas uma das mais interessantes é ver o livro sob ponto de vista de um sistema.

Aqui usei o termo ecossistema porque esse termo é mais conhecido e assim fica mais fácil de fazer relacionamentos, mas o termo mais correto é sistema mesmo.

Um sistema pode ser considerado um conjunto de coisas que se interrelacionam, e quando se trabalha com qualquer tipo de publicação é importante saber que ela vai se relacionar com uma série de agentes, e isso vai contribuir para que ela tenha sucesso ou fracasse em termos de alcance e vendas.

Esse processo é muito fluido, muito conectado, e existem várias nuances que precisam ser atendidas se a gente quer ter sucesso como autores e mesmo designers editoriais.

Relação autor-leitor

Uma das primeiras coisas do ecossistema do livro é a relação do autor com o leitor. Quando publicam um livro, os autores estão propondo alguma coisa, alguma experiência para o leitor, e isso se dá por meio de um livro.

Até algum tempo atrás essa relação tinha uma única direção, do autor para o leitor, mas hoje, com as mídias sociais, essa relação passa a ter um movimento forte também no sentido contrário, porque os leitores podem potencialmente interagir com os autores, dando um retorno a respeitor dos livros, comentando, e acompanhando mesmo os autores.

Essa relação entre autores e leitores é o ponto mais fundamental de uma experiência de leitura e do ecossistema do livro como um todo, sem eles não há ecossistema do livro.

Ou seja, se o livro não for bom, se a proposição do autor não for interessante para o leitor, se de alguma forma o relacionamento entre eles não for bacana, todo o resto tem pouca utilidade.

Mas existem outros agentes que influenciam esse relacionamento e podem ser decisivos para uma experiência de leitura positiva. São eles os influenciadores, a imprensa, as editoras, o designer, as bibliotecas, as livrarias, as questões legais, as tecnologias de publicação, as mídias sociais, a publicidade e os sistemas de avaliação.

Os influenciadores

E leitura não é totalmente silenciosa, ela é permeada pelo resultado das nossas expectativas e crenças, e essas são criadas pelo nosso entorno social. O que nossos amigos e parentes falam, o que os nossos ídolos ou pessoas de referência pensam, e mesmo a interação nas mídias sociais vai afetar a forma como lemos um livro.

Ou seja, existe todo um conjunto de pessoas influenciando nossas percepções de mundo e nossas decisões. Quantas vezes você comprou ou deixou de comprar um livro por conta de opiniões de amigos, familiares ou pessoas que você segue na internet? Então todos esses são influenciadores.

Mas obviamente em um mundo altamente influenciado pelas mídias sociais pessoas relevantes nesse tipo de mídia vão ter um efeito significativo na experiência de leitura.

Imprensa

Outro grupo que influencia decisivamente as percepções das é a imprensa. Mas aqui também vamos pensar de uma forma ampla, entram nessa catagoria a mídia impressa (jornais e revistas), portais de notícia, publicações especializadas (como os portais ligados ao cinema por exemplo), rádio, TV, entre tantas outras.

Talvez a principal diferença da imprensa para os influenciadores informais é que ela segue as regras do jornalismo profissional, o que implica em uma comunicação mais objetiva.

Nesse sentido, publicações que conseguem mobilizar a imprensa de forma geral tem um alcance bastante significativo, principalmente de forma regional, já que muitos leitores acompanham os acontecimentos da sua região (país, estado ou cidade) pela imprensa.

Editoras

As editoras são os agentes mais importantes do ecossistema do livro porque por muito tempo elas reinaram sozinhas o mercado editorial. Antes das mídias sociais e da existências dos e-books a publicação de um livro quase que só era possível por meio de uma editora.

Mesmo atualmente as editoras detêm um conhecimento e uma influência importante no mercado livreiro porque conhecem com muita segurança os caminhos para cada um dos agentes do ecossistema do livro. Elas sabem como atender aos influenciadores e a imprensa, conhecem com profundidade os canais de distribuição, as tecnologias e técnicas de produção e reprodução de livros, conseguem mobilizar as mídias sociais, e têm um grande conhecimento de questões legais ligadas à publicação de livros.

Mas justamente por toda essa qualidade publicar em uma editora profissional requer muita qualidade e segurança no autor e no livro, e pode custar caro.

Bibliotecas e livrarias

As biliotecas e livrarias são espaços de circulação do livro por natureza. Na livraria acontece a transação comercial, e nas bibliotecas um livro pode entrar em contato com inúmeras pessoas. Assim, elas são parte fundamental do ecossistema do livro e devem ser contempladas em todas as estratégias ligadas a ele.

Podem ser realizados diversos eventos nesses espaços como sessões de autógrafos, eventos de lançamento de livros, rodas de discussão, entre outros. Além disso é uma boa prática doar alguns exemplares para as bibliotecas visto que nesse espaço novos leitores podem surgir.

Questões legais

Apesar de ser um produto massificado, o livro tem questões legais envolvidas e que não podem ser deixadas de lado. A principal é a questão dos direitos autorais, seja em relação às formas de sessão desse direito para outros agentes distribuírem ou contribuírem para o produto, quanto aos direitos autorais de elementos internos ao livro, como as ilutrações, fotos, projeto gráfico, capa, entre outros.

Tecnologias

Atualmente um livro pode ser publicado em papel e na forma de livros eletrônicos (e-books), e cada uma das formas de publicação tem características tecnológicas diferentes. O livro impresso, por exemplo, requer um cuidado muito grande com o projeto gráfico e o uso de imagens, sob o risco dele ficar com uma aparência “amadora”. Já os livros eletrônicos precisam ter habilitadas algumas opções para que possam carregados e lidos com facilidade em telas.

Também é importante lembrar que um livro também pode ser publicado na forma de e-pub, um formato específico para os leitores digitais (e-readers), como o Kindle ou Kobo.

Mídias sociais

As mídias sociais são espaços extremamente dinâmicos de troca entre praticamente todos os agentes do ecossistema do livro. Por exemplo, elas permitem que autores façam trocas de opiniões e percepções com leitores, livrarias e editoras divulguem seus principais livros, além da troca entre os leitores, que podem fazer com que a reputação de um livro, autor ou editora aumente ou seja sepultada em questão de horas.

Por isso todos os agentes devem ter um cuidado redobrado e mesmo um acompanhamento profissional na hora de fazer a gestão de suas mídias sociais.

Publicidade

Dar visibilidade a um produto é uma das missões da publicidade, por isso ela é muito importante no ecossistema do livro. No Brasil não é tão comum se ter uma grande campanha de publidade ligada aos livros, mas sempre que possível é importante ter esse profissional contribuindo para a estratégia do livro.

Geralmente a publicidade é feita por editoras e livrarias, mas atualmente com a autopublicação essa tarefa acaba sendo assumida pelos próprios autores.

Sistemas de avaliação

Como quase tudo atualmente na vida, os livros também possuem sistemas de avaliação onde os leitores dão notas e publicam comentários sobre os livros. Assim como as mídias sociais os sistemas de avaliação podem ajudar autores a alcançar novos leitores, mas também podem acabar prejudicando a visibilidade e a reputação de um autor ou de um livro.

Conclusão

Publicar um livro não é somente imprimir e distribuí-lo, é preciso conhecer o mercado, seus agentes e as estratégias ligadas a cada agente. Então se você é um autor e quer ter sucesso com seus livros ler este texto pode ser o primeiro passo para algo mais sólido.

           
sobre o autor Davi Denardi Davi Denardi é pesquisador de design editorial e game design, e professor dos cursos de Design Gráfico, Design Digital e Design de Jogos da Universidade Federal de Pelotas.

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