O que é game design?

Por Davi Denardi
em

O Game Design (ou Design de Jogos, em português) é todo o processo de criação de um jogo, desde o conceito inicial até o produto final. Assim, o designer de jogos é o profissional responsável por todos os aspectos do jogo, incluindo o conceito, a mecânica, a história, os personagens, os gráficos e a música.

Geralmente o designer de jogos não trabalha sozinho, mas se relaciona com diversos profissionais como artistas, programadores, gestores de projeto, músicos, entre outros, em função da complexidade do processo de desenvolvimento de um jogo atualmente.

Especialmente no contexto dos jogos digitais atualmente várias tecnologias têm sido criadas para fazer com que os jogos (principalmente os jogos digitais) sejam cada vez mais imersivos, e isso implica uma série de conhecimentos e de etapas de refinamento do jogo.

As principais etapas para o desenvolvimento de um jogo são:

  1. Conceito
  2. Mecânica de jogo
  3. Balanceamento de jogo
  4. Personagens
  5. Arte
  6. Animação
  7. Música e efeitos sonoros

1. O conceito de jogo (game concept)

O game concept (conceito de jogo, em português) é a primeira ideia de um jogo, sua base conceitual fundamental que vai guiar outras as etapas de desenvolvimento. Ele descreve o jogo em um texto bem curto (geralmente um texto de até 5 minutos) e deve descrever:

  • O que o jogador deve fazer no jogo?
  • Quais obstáculos ele enfrenta?
  • Qual objetivo ele quer alcançar?

Um exemplo de conceito de jogo seria “Navegando em um pequeno bote no oceano (o que ele deve fazer) o jogador deve encontrar o caminho para a civilização (objetivo) coletando informações e suprimentos em pequenas ilhas e evitando ser engolido por monstros marinhos (obstáculos)”.

O conceito de jogo vai sendo apliado e refinado em outras etapas até a criação do Game Design Document (Documento de Design de Jogo, em português).

2. As Mecânica de Jogo

As Mecânicas de Jogo são um conjunto de regras e ações padronizadas possíveis em um jogo. Elas se aplicam tanto a jogos analógicos como digitais e incluem, por exemplo, o que o jogador pode fazer, quais elementos ele pode acionar, e como as ações influenciam o seu status.

A mecânica de jogo do Uno em discussão no Twitter

O movimento possíveis das peças de xadrez, o uso de dados, a divisão em grupos de jogadores, a possibilidade de um personagem pular, correr ou andar; situações de vitória, derrota ou desclassificação são alguns exemplos de mecânicas de jogo.

Algumas mecânicas são tão importantes para o jogo que causam discussões acaloradas nas mídias sociais, como quando o jogo Uno deixou claro que não se pode jogar uma carta +2 em cima de uma +2.

Em jogos digitais a evolução dos jogos pode incluir novas mecânicas de jogo, como no caso de CS:GO (atualmente CS2) que depois de alguns anos permitiu que os jogadores trocassem granadas entre eles, o que criou novas formas de jogar e novas estratégias de jogo.

3. Balanceamento de Jogo

O Balanceamento de Jogo é o ajuste das mecânicas de jogo para que ele fique justo para todos os jogadores. Para isso é importante ajustar a dificuldade do jogo, as condições de vitória e derrota, entre outros elementos.

O pay to win (P2W) ou “pague para ganhar” é um exemplo de prática de desbalanceamento de jogo odiada por todos os jogadores, nesse tipo de situação um jogador ou grupo de jogadores pode pagar para ter opções mais poderosas no jogo, como armas especiais ou jogadores melhores (no caso dos jogos de esportes), e com isso a justiça do jogo vai por água abaixo.

Jedi Ray contra um oficial do império em Star Wars: Battlefront II

O jogo Star Wars: Battlefront II é considerado um jogo desbalanceado porque jogadores especiais como a Jedi Ray são muito mais fortes do que o jogador com que se inicia o jogo, resultando em um massacre quando alguém tem a Ray e joga contra os oficiais “normais”.

Outro exemplo de desbalanceamento são fases ou “chefões” muito difíceis apresentados logo de saída no jogo, quando o jogador ainda não alcançou um certo domínio dele.

E é precisamente porque muda a “justiça” do jogo que o balanceamento é um dos elementos mais importantes para a experiência de jogo (ou experiência lúdica).

4. Personagens

Apesar de não serem obrigatórios, os personagens são muito comuns em jogos, principalmente nos jogos digitais. Personagens como Mario, Sonic ou Lara Croft conseguem ser tão cativantes que ampliam a sua presença para além do jogo, em filmes, objetos de decoração, brinquedos e colecionáveis.

E para criar personagens cativantes é preciso ter três elementos, uma história de fundo (backstory em inglês) sólida e profunda, um design visual atrativo e consistente, e também possibilidades de variação e customização.

Para este texto não ficar muito longo vamos tratar desses detalhes em outras postagens.

5. Arte

A arte aqui diz respeito à estética geral do jogo, geralmente conhecida como concept art, ela mostra como o jogo vai se parecer visualmente. Alguns exemplos são a estética delicada, com linhas e cores suaves de Gris; as formas arredondadas e coloração vibrante de Kirby; ou a atmosfera enclasurante e sombria de Silent Hill.

Exemplo de três conceitos de arte diferentes: Gris, Kirby e Silent Hill

Cada uma dessas artes remete ao jogador um tipo de experiência de jogo. Não faria sentido um jogo de suspense e terror ter as cores e formas de um Kirby. Da mesma forma um jogo leve e divertido dificilmente teria cores, formas e texturas sombrias.

E dentro desses extremos existem inúmeras possibilidades de explorar a criatividade e propor novas formas de se produzir jogos.

6. Animação

O design de jogos não se restringe aos jogos digitais e pode envolver jogos de cartas, jogos de tabuleiro, jogos sérios, entre outros. Mas especificamente nos jogos digitais a animação tem um lugar especial.

Dois extermos da animação em jogos, a busca pelo realismo e a criatividade da animação tradicional.

A animação tem como objetivo dar vida a algo inanimado. É só lembrar do candelabro da Bela e a Fera, que tem inclusive personalidade. Nesse sentido é importante lembrar que os personagens em jogos digitais são fictícios, mas que ganham vida e alma (do latim animātiō = dar vida) por meio da animação.

Alguns jogos vão buscar uma animação com certo realismo, como na maioria dos jogos de tiro em primeira pessoa (FPS – First Person Shooter, em inglês), já outros vão fazer da animação tradicional seu mote principal, como em Cuphead, onde os personagens, cenários e inimigos se distorcem de forma absolutamente impossível de ser reproduzida na “vida real”.

7. Música e efeitos sonoros

Finalmente, mas não por último, a música e os efeitos sonoros têm um papel fundamental no clima de um jogo e na imersão do jogador em jogos digitais. Todos os jogos vão usar de música para “dar o tom” de um cenário ou fase, criando uma expectativa e uma imersão estética neles.

Já os efeitos sonoros ajudam a dar responsividade e reforçar cada ação de um jogo. O som de passos, de água pingando ou do vendo em um cenário ajudam a nos sentir “dentro” de cada lugar. Quer ter a prova jogue um jogo novo no mudo e depois aumente o volume para ver a diferença.

Conclusão

O Game Design é uma atividade altamente interdisciplinar e que requer um campo amplo de habilidades. O game designer dificilmente vai dominar totalmente todas as áreas mas deve ter uma noção de todas elas para poder propor jogos envolventes, imersivos e divertidos. E se você quiser conhecer mais sobre a área vamos postar vários textos ampliando esses e outros temas aqui na Glifo.

E se você não quiser perder nada siga a gente nas mídias sociais e assine nossa newsletter! 😉

           
sobre o autor Davi Denardi Davi Denardi é pesquisador de design editorial e game design, e professor dos cursos de Design Gráfico, Design Digital e Design de Jogos da Universidade Federal de Pelotas.

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